-Preciso ir ao banheiro, quem vai comigo?
Loirinha levanta e junto vai a morena, sua amiga. Saem da mesa dando risadinhas contidas, desviando-se dos obstáculos do caminho: cadeira, mesas, pessoas, o gatinho que a loirinha paquera e o ex-namorado da morena que insiste em não tirar os olhos dela. Quando a porta do banheiro se fecha o mundo se transforma, é como se nada que existe do lado de fora existisse e o cocoricó começa. A loirinha entra na cabine e a morena dá com o nariz na porta da cabine ao lado que está ocupada, então entram as duas, uma segura a porta enquanto a outra ergue a saia e faz o seu xuá. É muito engraçado porque embora tenha 8 mulheres em um banheiro com apenas duas cabines, as conversas nunca se cruzam. Sim, 8 porque o número sempre tem que ser par. Uma mulher ímpar em um banheiro ou é solitária ou realmente está sobrando na parada e resolveu ir ao banheiro sem ser convidada. As conversas não se cruzam porque para elas isso é deselegante.
Loirinha levanta, abaixa a saia e troca de lugar com morena. A loira insiste em dizer que o cabelo não ficou legal e a morena, amiga, insiste em dizer que isso é coisa da cabeça dela. A loira acha que causou pro paquera na passarela da mesa para o "toilette" e a morena está em dúvidas, jurando que seu ex fez cara de "sinto sua falta". Loira ri, morena ri entristecida e as duas da cabine ao lado riem mais alto para, indiretamente, mostrarem que a piada delas foi tão ou mais engraçada.
Como se fosse mágica, as quatro saem das duas cabines para que as outras quatro da fila de espera possam entrar. Os pares praticamente nem trocam olhares entre si, até uma cutucar delicadamente o ombrinho da outra e dizer: nossa, não reconhece mais, não? E miss loira, fingindo de desentendida, faz cara de espanto e solta uma gargalhada de esquecida, avançando com um abraço bem falsinho no pescoço da outra, como a querer estrangular a coitada se pudesse.
Beijo, beijo. Loira e morena saem e param do lado de fora, onde está o espelho e a pia, atrás vêm as outras duas que estavam na cabine ao lado. Loira insiste no cabelo, morena arruma o brinco torto e as duas atrás procurando um lugar ao sol do mundo espelhado, uma arrumando o babadinho da blusinha nova de gola caída e a outra tirando o rímel borrado do cantinho do olho direito, esticando o pescoço, fazendo força pra enxergar. Logo atrás saem mais duas, uma fica enroscada na porta por falta de espaço e a outra entupida naquele banheirinho cheirando a calcinha amassada, desesperada pra sair e atacar de biscate na balada. Um empura-empurra descontrolado, uma massa de cabelos e peitos se amassando. Quem é a morena, quem é loira, quem é a oxigenada e quem é a tingida? Não se sabe mais. A que ficou pra trás finalmente consegue sair, se espremendo na parede, sendo obrigada a sentir o perfume barado da duplinha que alugou o resto do espelho que sobrava. A garotinha do seu lado, quase sendo jogada pro ralo da pia, corre pra retocar o batom que falta, não importa se ficar torto, depois a amiga dá uma olhada.
Amassa o cabelo aqui, puxa o cabelo ali, loira e morena voltam para a mesa. Que alívio, mais espaço pro espelho. Cansadas de fazer caras e bocas e sabendo que não tem muito conserto para a situação naquela altura do campeonato, das quatro que sobram saem mais duas. Seleção natural, as mais insistentes prevalecem. É a lei da sobrevivência.
Saem as duas últimas e mais seis resolvem entrar.
Loirinha levanta e junto vai a morena, sua amiga. Saem da mesa dando risadinhas contidas, desviando-se dos obstáculos do caminho: cadeira, mesas, pessoas, o gatinho que a loirinha paquera e o ex-namorado da morena que insiste em não tirar os olhos dela. Quando a porta do banheiro se fecha o mundo se transforma, é como se nada que existe do lado de fora existisse e o cocoricó começa. A loirinha entra na cabine e a morena dá com o nariz na porta da cabine ao lado que está ocupada, então entram as duas, uma segura a porta enquanto a outra ergue a saia e faz o seu xuá. É muito engraçado porque embora tenha 8 mulheres em um banheiro com apenas duas cabines, as conversas nunca se cruzam. Sim, 8 porque o número sempre tem que ser par. Uma mulher ímpar em um banheiro ou é solitária ou realmente está sobrando na parada e resolveu ir ao banheiro sem ser convidada. As conversas não se cruzam porque para elas isso é deselegante.
Loirinha levanta, abaixa a saia e troca de lugar com morena. A loira insiste em dizer que o cabelo não ficou legal e a morena, amiga, insiste em dizer que isso é coisa da cabeça dela. A loira acha que causou pro paquera na passarela da mesa para o "toilette" e a morena está em dúvidas, jurando que seu ex fez cara de "sinto sua falta". Loira ri, morena ri entristecida e as duas da cabine ao lado riem mais alto para, indiretamente, mostrarem que a piada delas foi tão ou mais engraçada.
Como se fosse mágica, as quatro saem das duas cabines para que as outras quatro da fila de espera possam entrar. Os pares praticamente nem trocam olhares entre si, até uma cutucar delicadamente o ombrinho da outra e dizer: nossa, não reconhece mais, não? E miss loira, fingindo de desentendida, faz cara de espanto e solta uma gargalhada de esquecida, avançando com um abraço bem falsinho no pescoço da outra, como a querer estrangular a coitada se pudesse.
Beijo, beijo. Loira e morena saem e param do lado de fora, onde está o espelho e a pia, atrás vêm as outras duas que estavam na cabine ao lado. Loira insiste no cabelo, morena arruma o brinco torto e as duas atrás procurando um lugar ao sol do mundo espelhado, uma arrumando o babadinho da blusinha nova de gola caída e a outra tirando o rímel borrado do cantinho do olho direito, esticando o pescoço, fazendo força pra enxergar. Logo atrás saem mais duas, uma fica enroscada na porta por falta de espaço e a outra entupida naquele banheirinho cheirando a calcinha amassada, desesperada pra sair e atacar de biscate na balada. Um empura-empurra descontrolado, uma massa de cabelos e peitos se amassando. Quem é a morena, quem é loira, quem é a oxigenada e quem é a tingida? Não se sabe mais. A que ficou pra trás finalmente consegue sair, se espremendo na parede, sendo obrigada a sentir o perfume barado da duplinha que alugou o resto do espelho que sobrava. A garotinha do seu lado, quase sendo jogada pro ralo da pia, corre pra retocar o batom que falta, não importa se ficar torto, depois a amiga dá uma olhada.
Amassa o cabelo aqui, puxa o cabelo ali, loira e morena voltam para a mesa. Que alívio, mais espaço pro espelho. Cansadas de fazer caras e bocas e sabendo que não tem muito conserto para a situação naquela altura do campeonato, das quatro que sobram saem mais duas. Seleção natural, as mais insistentes prevalecem. É a lei da sobrevivência.
Saem as duas últimas e mais seis resolvem entrar.
É o trânsito. É a vida do banheiro.
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