... horrores, atrocidades, memórias, paranóias, fatos, fotos, corpos, fofocas, bizarrices, novelas, contos, crônicas, traumas de infância, insuportabilidade acumulada & retroativa e homicídio psicótico & grupal em potencial cruzado!!!

sexta-feira, maio 04, 2007

Meia-noite no jardim do bem e do mal

Não sou adepto a drogas, não mais. Com excessão, lógico, do meu cigarro diário, do meu álcool social, do meu Dorflex para as dores de cabeça da vida, dos antibióticos para as bactérias mundanas e dos antinflamatórios para minhas malditas amigdalas.

Foi-se o tempo que maconha pra mim foi algo legal. Usei e desfrutei dessa erva daninha por boa parte da minha vida com a finalidade de esperar que ela pudesse me trazer algo que nunca cheguei a ter. Essa busca foi em vão, pois quando descobri que com ou sem ela eu não teria o que buscava, escolhi viver sem, pelo menos prevalecem meus neurônios, os quais prezo e os quais realmente podem me trazer coisas que busco.

Nas classificações dos usuários, sempre fui um usuário experimental, daquele tipo que, como a classificação deixa clara, usa apenas para experientar e descobrir sensações que não conseguiria sem nenhuma ajuda entorpecente.

O experimental experimenta e faz experimentações e é assim que ele se relaciona com as substâncias de seu interesse e com isso abre seu espírito desbravador para o mundo e traz para sua vida as sensações sentidas por algum tempo, aprendendo a resgatá-las sem a necessidade de buscá-las de outra forma. Para eles (nós), essas experiências são como aprendizados, da mesma forma que aprendemos a utilizar uma determinada palavra em um texto ou uma determinada frase em um contexto sem a necessidade de termos que buscá-las nos dicionários ou nos livros da língua.

A verdadeira diferença entre um experimental de qualquer outro usuário é a não banalização daquilo que ele pretende. A banalização ocorre a partir do momento que o indivíduo não sabe mais diferenciar o que é um momento de um hábito e é aí que um vício acontece e a banalização se firma, bem como não saber a diferença de um prazer a uma fuga.

Carlos Castaneda aprendeu a respeitar o prazer e não a se habituar na fuga. O mesmo caminho seguiu Tori Amos a qual leva essas experiências consigo como tesouros e não como simples objetos do dia a dia. Não sou um Castaneda e muito menos uma Amos, mas sempre me guiei por essas experiências alheias da mesma forma como eles foram guiados durante suas viagens interpessoais em busca do conhecimento próprio e do seu mundo.

Quando resolvi experimentar o verdadeiro chá da felicidade, já estava avisado sobre a possibilidade de ele não trazer tanta felicidade assim, mas a minha vontade de experimentar e desfrutar deste diferente prazer por um infame período de tempo comparado com o tempo de uma vida toda foram maiores e lá fui eu.

Ao contrário do que muita gente acha, você não descobre a chave da vida, mas descobre para que a vida serve: para ser vivida. Independente dos obstáculos, das felicidades e das revoltas, é para isso que ela serve. A razão de se existir é um mistério, mas o ser e estar é real no seu momento. A partir do instante que você abre seus sentidos para o que está profundamente em sua volta você se torna um ser infame, você ouve coisas que não deveria, vê coisas que nunca imaginaria, sente coisas que até então não sentira, se gana com tamanho poder e se assusta com tão pouco controle. Assim você descobre se é digno de tanto ou não.

Fragilidade é a verdadeira palavra. Perdemos todos os escudos e armas que utilizamos no nosso dia-a-dia para barrar o mundo que nos circunda e ficamos aberto ao ataque da mais insignificante formiga, podendo ela se transformar no mais instintivo dos tubarões. Lidar com isso é o verdadeiro poder que se adquire e é esse o poder que nos diferencia dos demais.

Não é um poder material, nem muito menos social, é puramente espiritual e consciente por mais inconsciente que possa parecer no momento. É se arriscar a sentir, a enfrentar o medo, a querer descobrir porque aquilo parece ser tão forte se você nunca havia reparado até então, é ver a realidade nas suas mais cruas cores e nuances. É literalmente se por de frente àquilo que te proíbe prosseguir e descobrir que do lado de fora da caverna o mundo não é o inferno que você acreditava.

Para alguns, todas essas sensações podem ser absolutamente diferentes e a vida se torna um verdadeiro inferno em plena terra. Isso é fruto da não sociabilidade com o elemento, é fruto da banalização diária de tudo aquilo em que se toca e se relaciona, e o pior de todos os males do ser humano: subestimar o que parece simples. Dessa forma o belo se torna feio e o verdadeiro em falso, a relação é ruim e a aprendizagem é anulada.

Aprendizagem, esse é o fio condutor de tudo.

Nenhum comentário: